sexta-feira, 23 de março de 2012

A GLÓRIA DE CHICO ANYSIO


Era 1973, quando ainda usava cabelos grandes e terminava o último ano ginasial. Tínhamos de apresentar um trabalho sobre comunicação. Por acharem que tinha algum perfil de repórter, me designaram para fazer uma entrevista com alguém importante e que fosse da TV Globo. De preferência, Chico Anysio. Lembrei-me de uma tia que conhecia pessoas influentes na emissora, entre elas o comediante Carlos Leite, que trabalhava com ele no Programa Chico City interpretando o 'Beleza' (docinho de coco, docinho de jerimum...) e o Omar, dançarino do Fantástico. Pedi sua ajuda e ela arranjou tudo. Dia marcado, gravador cassete Philips com o minimicrofone na enorme bolsa tiracolo de couro, fui para o Jardim Botânico procurar aqueles que me levariam perto do ídolo, já àquela época, maior e mais inteligente humorista brasileiro. Na plateia, assistindo à gravação do programa, ainda em p&b, e esperando o momento certo, ficava repassando as perguntas que tentaria fazer. De repente, 'Beleza' me conduz até um canto do set e, simples como beber água, me apresenta ao Chico, ainda caracterizado de 'Velho Zuza' (um de seus 200 personagens importantes). Foi ali que comecei a perceber sua grandeza, pois a primeira coisa que fez foi, humildemente, se colocar à disposição para as perguntas, desde que "o garoto não se importasse dele ir, ao mesmo tempo, retirando a maquiagem de Zuza, pois sairia dali'voando' para São Paulo", onde se apresentaria em um teatro. Trêmulo, lembro-me bem do atrevimento da primeira e última perguntas: - Chico, qual o seu nome completo e onde você nasceu? Entre uma descaracterização de Zuza e outra: Maranguape, Ceará; Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho. E o quê acha de humoristas como Ronald Golias, Renato Aragão e Moacyr Franco (que tinha um programa na casa)? - Se são humoristas, eu acho graça! (risos) Agradeci, me despedi e fiquei pensando na glória que era ser um Chico Anysio. Anos mais tarde, o escutei dizendo que glória só entre a Lapa e o Catete e, ao lembrar-me daquele 1973, vi que ele falava a verdade.