Josefh Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha Nazista, dizia
que “uma mentira contada mil vezes se torna verdade”. O reinado do
terror do III Reich de Adolf Hittler mostrou que isto é realmente
possível. As redes sociais, 70 anos depois do final da II Guerra,
provam, mais uma vez, o poder do ódio e da mentira como armas de
propaganda política. O ódio e a dissiminação de boatos nas redes sociais chamam cada vez
mais a atenção de psicólogos, sociólogos, advogados e dos governos. “O
perfil das redes sociais mudou”, diz ao jornal Valor Econômico Celso
Figueiredo, professor de Mídias Sociais da Faculdade Mackenzie. Segundo
ele, a polarização entre PT e PSDB nas últimas eleições acabou
descambando na internet para troca de acusações entre simpatizantes dos
dois grupos, com uns chamando os outros de “coxinhas” e “petralhas”. O sociólogo Alberto Carlos de Almeida, autor do livro A cabeça do
brasileiro, também estuda o fenômeno da radicalização nas redes sociais,
mas alerta que a criminalização da política, presente na web e no
noticiário de grandes redes de televisão, rádio e jornais, está
desinformando e deseducando os eleitores.
Síndrome de Hulk
Matéria no caderno EU&Fim de Semana, do jornal Valor Econômico, confirma a força do ódio nas redes
sociais. A psicóloga Beatriz Breves, que já foi vítima de uma campanha
de difamação no Facebook, transformou a experiência dolorosa no livro A
maldade humana: como detonar uma pessoa no Facebook, feito em parceria
com a amiga e também psicóloga Virgínia Sampaio. Beatriz foi vítima do
boato de que tinha maltratado um gato no seu condomínio. Numa velocidade
assustadora, mil pessoas curtiram a página do agressor. Seu caso foi
parar na polícia, e ela recebeu visitas até de representantes da OAB
(Ordem dos Advogados do Brasil). Levou muito tempo para reconhecer o
agressor e levá-lo à Justiça, mas as sequelas do caso continuam até
hoje. Para Aurélio Melo, professor em Psicologia da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, “a internet é representante de uma verdadeira
sociedade sem fio, (…) a natureza de convivência humana é muito frágil.
Todo mundo espia todo mundo, mas não há fios entre as pessoas. Você pode
aparecer e desaparecer quando quiser”. Com este anonimato o agressor se
sente livre para manifestar seu ódio, sem risco de seu comportamento
ser reprovado socialmente. Mas não são apenas haters e trolls que assumem caráter doentio na
internet. O psiquiatra Jairo Bouer identifica outro comportamento que
ele batiza de “sindrome de Hulk”. Assim como o médico, que é o alterego
dos personagens em quadrinhos, certos usuários das redes sociais, também
se transformam em monstros. “Impotentes diante de um problema, sem
condições de usar sua capacidade argumentativa, ele parte para o uso da
força. A frase repetida pela criatura verde é a mais adequada a este
tipo de delinquente da web: Hulk esmaga!”. Preocupados com os ataques na internet, governo e sociedade civil se
mobilizam. A legislação ainda é falha para tipificar esta nova modalidade
criminosa, mas com o debate de acalorando, os legisladores devem agir
para tapar esta lacuna, que ameaça as regras de convivência entre as
pessoas, e até a própria democracia.
Jornal Diário da Manhã - Goiânia - GO