domingo, 19 de abril de 2015

ÓDIO NA INTERNET

Josefh Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha Nazista, dizia que “uma mentira contada mil vezes se torna verdade”. O reinado do terror do III Reich de Adolf Hittler mostrou que isto é realmente possível. As redes sociais, 70 anos depois do final da II Guerra, provam, mais uma vez, o poder do ódio e da mentira como armas de propaganda política. O ódio e a dissiminação de boatos nas redes sociais chamam cada vez mais a atenção de psicólogos, sociólogos, advogados e dos governos. “O perfil das redes sociais mudou”, diz ao jornal Valor Econômico Celso Figueiredo, professor de Mídias Sociais da Faculdade Mackenzie. Segundo ele, a polarização entre PT e PSDB nas últimas eleições acabou descambando na internet para troca de acusações entre simpatizantes dos dois grupos, com uns chamando os outros de “coxinhas” e “petralhas”. O sociólogo Alberto Carlos de Almeida, autor do livro A cabeça do brasileiro, também estuda o fenômeno da radicalização nas redes sociais, mas alerta que a criminalização da política, presente na web e no noticiário de grandes redes de televisão, rádio e jornais, está desinformando e deseducando os eleitores.

Síndrome de Hulk
Matéria no caderno EU&Fim de Semana, do jornal Valor Econômico, confirma a força do ódio nas redes sociais. A psicóloga Beatriz Breves, que já foi vítima de uma campanha de difamação no Facebook, transformou a experiência dolorosa no livro A maldade humana: como detonar uma pessoa no Facebook, feito em parceria com a amiga e também psicóloga Virgínia Sampaio. Beatriz foi vítima do boato de que tinha maltratado um gato no seu condomínio. Numa velocidade assustadora, mil pessoas curtiram a página do agressor. Seu caso foi parar na polícia, e ela recebeu visitas até de representantes da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Levou muito tempo para reconhecer o agressor e levá-lo à Justiça, mas as sequelas do caso continuam até hoje. Para Aurélio Melo, professor em Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, “a internet é representante de uma verdadeira sociedade sem fio, (…) a natureza de convivência humana é muito frágil. Todo mundo espia todo mundo, mas não há fios entre as pessoas. Você pode aparecer e desaparecer quando quiser”. Com este anonimato o agressor se sente livre para manifestar seu ódio, sem risco de seu comportamento ser reprovado socialmente. Mas não são apenas haters e trolls que assumem caráter doentio na internet. O psiquiatra Jairo Bouer identifica outro comportamento que ele batiza de “sindrome de Hulk”. Assim como o médico, que é o alterego dos personagens em quadrinhos, certos usuários das redes sociais, também se transformam em monstros. “Impotentes diante de um problema, sem condições de usar sua capacidade argumentativa, ele parte para o uso da força. A frase repetida pela criatura verde é a mais adequada a este tipo de delinquente da web: Hulk esmaga!”. Preocupados com os ataques na internet, governo e sociedade civil se mobilizam. A legislação ainda é falha para tipificar esta nova modalidade criminosa, mas com o debate de acalorando, os legisladores devem agir para tapar esta lacuna, que ameaça as regras de convivência entre as pessoas, e até a própria democracia. 

Jornal Diário da Manhã - Goiânia - GO