No embalo dos jogos olímpicos, que, aliás, se encerram domingo (21), agora é a vez da maratona das campanhas eleitorais que em dois de outubro revelarão a composição das câmaras e os prefeitos que administrarão os municípios pelos próximos quatro anos, exceto para os 92 que poderão ter segundo turno, isto é, aqueles com mais de 200 mil eleitores. Candidatos, agora, com menos tempo e recursos para 'brilhar e alcançar o pódio' (a campanha foi encurtada para 45 dias e só recebe doações de pessoas físicas), terão de correr, saltar obstáculos, montar, bloquear, chutar, defender chutes, ter boa pontaria, imobilizar adversário, enfim, muito jogo de cintura, capacidade e, claro, preparo físico para enfrentar uma guerra cada vez maior. Não se esquecendo das batalhas judiciais, algumas em curso e que costumam trazer desgaste, quando não o próprio alijamento. Mais que as disputas esportivas, travadas em lugares específicos, com regras claras e à vista de bilhões de pessoas, o processo eleitoral é um fenômeno complexo, sendo muitas vezes igualado a uma guerra por envolver especialistas, vultosos investimentos, estratégias, disciplina e organização, com batalhas importantes entre as diversas facções políticas, em muitos casos extrapolando-se os métodos tradicionais, uma vez que muita gente envolvida não abre mão de se utilizar de meios, digamos, pouco ortodoxos, para alcançar o objetivo. Definida por Gleich como: "...la política es la
continuación de la guerra por otros medios, y el adversario es visto como un
enemigo o, en cualquier caso, como un peligro o una amenaza", as eleições tornam-se um autêntico vale-tudo. Neste contexto, as
campanhas constituem ardil para o combate, envolvendo o volume e
o tipo de armas utilizadas (o conjunto de recursos materiais e humanos), tendo
como objetivo imediato vencer a batalha – e, a longo prazo, a guerra que, sob este ponto de vista, deve abranger não apenas ações palpáveis, como a propaganda, o programa de governo, discursos, recursos
materiais, militância, "boca-de-urna", mas também aspectos cuja percepção é
menos imediata e não menos importante, como o enquadramento das
atuações dos partidos e disputas
internas; coligações e
alianças; imagem e comportamentos de partidos e candidatos; fiscalização
e atenuação de organismos não partidários como a imprensa, igreja,
sindicatos, etc. sem esquecer do papel relevante que as redes socias representam nos dias de hoje. Muitos poderão estar dizendo: "E eu com isso"? Por mais que se
martele a tecla da "falta de interesse", da "falta de participação" e da
"despolitização" da maioria da população, não se pode negar que a eleição é um
acontecimento importante e mobilizador, enfim, pode se afirmar que o período das
eleições por si próprio é um momento excepcional. Além das repercussões
que produz no processo político nacional, talvez seja a única ocasião em que a
política assume um significado na vida cotidiana, ainda mais quando se trata
desse período nos municípios, onde ocorrem os primeiros contatos dos cidadãos
com as esferas do poder. Afastada de outras formas de participação, a maior
parte da população sente, em geral, a política como algo externo e distante. Entretanto,
as eleições obrigam a uma participação: mesmo contra a vontade, as pessoas têm de votar. O processo eleitoral, contudo, não se esgota na obrigação, embora
esta possa ser a primeira ideia: as pessoas optam por um partido ou por um
candidato e, se inicialmente mostram-se relutantes, com o decorrer da campanha,
terminam encontrando motivos para defender seu partido ou candidato, ainda que
pese toda a descrença nos políticos. E na política. Se no início conseguem esquivar-se com um "não quero nem saber, não
falo e nem gosto de política", acabam sendo obrigadas a se definir por um
partido e/ou candidato, ou pelo menos a falar de eleições, já que não há outro
tema nos locais de trabalho, nas conversas nos bares e comentários com os vizinhos. Sendo assim, seria de bom alvitre prestar atenção nas palavras, gestos e ações de cada candidato, bem como se verificar a ficha de cada um para que no(s) dia(s) em que estejam frente a frente, urna e eleitor, o voto surja natural e conscientemente. Para não haver arrependimentos futuros.