Pense num país que tem um médico condenado a 181 anos de prisão, por
48 estupros de 37 pacientes, com o direito de cumprir prisão num prédio
de luxo em São Paulo porque uma juíza considerou que as condições de
saúde dele pioraram e o sistema prisional não
teria condições de oferecer tratamento adequado (o sistema brasileiro
conta hoje com aproximadamente 720 mil detentos, sendo muitos com
doenças graves tendo que se submeter ao tratamento nas próprias
instituições). Pense num senador, suspeito
de cometer vários crimes, além de flagrante falta de decoro parlamentar
por pedir dinheiro 'emprestado' a empresário criminoso e a falar, até,
na morte de parente caso o delatasse, voltando a exercer atividades de
seu mandato e ter restabelecidos todos os direitos, pois um ministro do
Supremo Tribunal Federal
considerou que a defesa tem razão a dizer que ele foi vítima de trama
ardilosa e que a medida anterior proferida por um outro ministro, do
mesmo tribunal que havia determinado afastamento e prisão do senador, "criaria
uma perigosíssima jurisprudência e afetaria o equilíbrio e a independência entre os Três Poderes".
E por falar em STF, pense num guardião da Constituição, cujos
ministros são nomeados por presidentes da República, julgando estes
próprios presidentes e cometendo tantos 'equívocos' como os dos últimos
meses. E num Tribunal Superior Eleitoral que, mesmo
com provas de incontestes de abuso de poder político e econômico,
absolve a chapa que elegeu uma presidente, já afastada definitivamente
por impeachment e um atual mandatário
que, agora,
comete outros muitos abusos e continua no poder. Pense, também, num país
cuja Justiça é dividida a ponto de quase sempre favorecer e proteger o
criminoso, mandando uma polícia prender e
um alvará soltar. E por falar em polícia, pense numa corporação que tem
profissionais entregando os próprios colegas para os marginais,
matando, roubando e misturando droga apreendida, para fazê-la circular.
Pense numa carga tributária, considerada das mais altas do
planeta, sendo revertida para a corrupção de políticos e empresários,
ao invés de melhorar a educação, a saúde, os transportes, os salários e a
segurança de sua gente. Pense em verbas públicas destinadas à merenda
(muitas vezes de péssima qualidade) e transportes escolares , à compra
de medicamentos para doentes terminais ou que necessitam de tratamento
específico, como recém-nascidos com doenças raras e à infraestrutura que
inclui estradas, hospitais e escolas, todas sendo desviadas para
alimentar a fome insaciável de seres cujo objetivo é um poder vindo do
sofrimento de mais de 200 milhões de pessoas. Finalmente, pense numa
república que tem como fundamentos a cidadania, a soberania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político e como objetivos principais construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação permitindo que um Congresso, constituído por 'representantes do povo', desempenhe
papel contrário e continue impune, imune e, ainda, com foro
privilegiado. Pois, é. Este país existe, com muito mais problemas,
equívocos, injustiças e dinheiro roubado. Este país tem nome. Este país
chama-se Brasil.