quarta-feira, 19 de setembro de 2012

CARNAVAL FORA DE ÉPOCA

Alguém já disse que a eleição é um dos maiores (se não o maior) exemplos de democracia. Uma festa mesmo. Durante a campanha, principalmente, agora, faltando pouco mais de 15 dias, carreatas, bandeiras, panfletos, cartazes nas ruas, - com ou sem gente por perto - e uma infinidade de enfeites se intensificam, adornando as manifestações políticas nos quatro cantos do país. Serão escolhidos cerca de 5.600 prefeitos e outros milhares de vereadores e o fato poderia se constituir numa autêntica festa da democracia, não fosse o que muitas vezes se esconde por trás de toda essa espetacularização. O aumento do nível de corrupção e o desperdício de dinheiro, pois este ano surgirão no cenário mais vereadores após a aprovação da Emenda Constitucional 58/2009, o desejo que a maioria dos políticos têm de se servir dos instrumentos que um mandato proporciona e, algo tanto quanto grave, que é a indiferença em relação aos verdadeiros problemas vividos pelo povo. Povo este que 'veste a camisa', segura a bandeira e, depois, já no dia 8 de outubro, após a ressaca eleitoral ( se o seu candidato ganhou, bebe pra comemorar e se perdeu, pra esquecer), vê-se sem a menor perspectiva. A mesma de quando aderiu a campanha para ganhar uns trocados. Mas toda esta espetacularização não é à toa. Na verdade, ela é criada propositadamente para chamar a atenção dos eleitores, seja para que estes tenham opções mais 'interessantes' na hora de escolher seu (dele) candidato, seja para ludibriá-lo com um festival panfletário do qual o desperdício, a poluição sonora e visual, bem como outros elementos desse período, sirvam de instrumentos a favor dos políticos. De fato, tudo isso se configura como a carnavalização da democracia, a qual os candidatos, muitas vezes, não estão preocupados com os problemas vividos pelo cidadão, mas sim com a quantidade de votos que poderão angariar para si e, assim, conquistar o cobiçado cargo público. Expostos como verdadeiras celebridades pelos meios midiáticos, os candidatos surgem nas suas megalomaníacas campanhas, similares aos destaques dos carros alegóricos que desfilam nas escolas de samba, enquanto o povo, infeliz e lamentavelmente, vem em alas de adoração, alienando-se. A cada novo discurso proferido em comícios, a cada papel entregue, nas carreatas pra lá e pra cá, parece que uma nova chama se acende no íntimo social. Mesmo desacreditada com a postura política do país, a qual durante décadas teve, e ainda tem, a corrupção como válvula propulsora, a população busca nas alegóricas manifestações políticas o fio de esperança para que as mazelas que os assolam sejam, de uma vez por todas, sanadas. Para que isso aconteça é importante que os próprios políticos se desnudem dos enfeites que encobrem suas verdadeiras identidades e se mostrem para o povo, não como entidades celestes salvadoras da pátria, repentinamente, mas sim como humanos comprometidos com os problemas sociais e dispostos a resolvê-los sem pretensões subliminares. E o povo, neste sentido, deve amadurecer, deixando de esperar por um herói sebastianista, não se deixando levar pela pirotecnia que o período eleitoral insiste em proporcionar. Talvez, assim, alguns dos inúmeros males que assolam o povo possam ser paulatinamente solucionados. Ainda bem que, em muitas cidades, existem candidatos, se não cândidos, na acepção da palavra, pelo menos bem-intencionados a fazer o melhor.