Pisei em Quissamã, então 4° distrito de Macaé, pela primeira vez em
1978. Era bem jovem, segundanista em Psicologia e, talvez, naquela
oportunidade, quando aceitei convite para lá passar o Carnaval, tenha
despertado em mim o espírito desbravador de hoje que
já nos permitiu conhecer cinco dos seis continentes - a Antártida acho
que não vai dar - e considerável parte do País, sempre com a sagaz
curiosidade típica de quem quer, de alguma forma, conhecê-la e, quando
possível, dela fazer parte. Quiçá, mudá-la?!?!
Até aquela data nunca tinha ouvido falar daquele "lugarzinho" (apenas
no sentido interiorano, gentil e singelo e por sua população, à
época, de cerca de 11, 12 mil habitantes ) bucólico, aprazível, de
tradições familiares, religiosas e tão cheio de cultura
e muitas histórias para contar e ouvir. E ensinar. Como, por exemplo, a
dos Sete Capitães, com as terras em sesmarias dadas a eles pelos
relevantes serviços prestados, no século XVII, durante a invasão
dos holandeses e dos piratas ingleses, quando foram recompensados
com terras do Norte Fluminense, inclusive Quissamã, outrora Aldeia
Nova, Povoação de Nossa Senhora do Desterro e Freguesia de Quissamã. Sem
falar na origem de seu nome que se deve a um escravo encontrado por
eles, junto aos índios, vindo de cidade africana,
homônima (sem o circunflexo), localizada a 80 km de Luanda, capital de
Angola, outra de suas muitas peculiaridades que, aliás, deveriam ser
mais e melhor reproduzidas e exploradas, pois, nestes tempos de rápido
processo de civilização - muitas vezes tão rápido
que faz aumentar nossa falta de memória - andam um pouco esquecidas com
risco de se perder, ou mesmo se modificarem, no meio dos muitos
caminhos de um progresso, vindo através da terra, do ar, do mar, bem
como do barro e até mesmo pelas estradas de asfalto
produzidas por uma civilização que muitas vezes não dá o devido valor à
própria história. Na semana que Quissamã completa seu 30° aniversário
de emancipação político-administrativa (12 de junho) comemorando as
muitas conquistas - das quais fui testemunha ocular,
seja como turista, de um passado recente, ou como cidadão, servidor,
eleitor, contribuinte, etc, que espero continuar sendo por um bom tempo
- muita coisa se passou pela mente desde aquela " primeira vez" no ano
de 1978, do século XX (quem sabe, ainda, nas
muitas cenas de déjà vu desde então?). Além da constatação dos tempos,
indiscutivelmente, promissores, quando Quissamã, sua gente e os " filhos
adotivos" passaram a contar com muito mais qualidade de vida, preocupa
-me, hoje, sobremaneira, outro grande patrimônio,
que são as páginas de sua história, ser esquecido ou deixar de retratar
toda a verdade como só acontece quando ela é contada com todos os
detalhes, seus personagens e feitos principais. Inclusive com todos os
acertos e, principalmente, seus erros para que
não aconteça, com nossa estimada Quissamã, aquilo que o pensador Edmund
Burke temia quando alguém, deliberada ou instintivamente, tentava
apagar ou esconder: "um povo que não conhece a sua história está
condenado a repetí-la". E que viva a história. E que
viva Quissamã. E que a verdade prevaleça. Sempre!