quinta-feira, 1 de março de 2018

PANORAMA

DINHEIRO NAS ESCOLAS

Que tem muita prática errada no serviço público, principalmente, desserviço e ela, sempre ela, a corrupção, todo mundo já sabe. Que algumas instituições, em sua maioria, não cumprem com seu dever, nem dão bons exemplos, também. Entretanto, como dizia Nélson Rodrigues, 'toda unanimidade é burra' (apesar de em alguns casos não ser tão burra assim, como no caso do deputado cassado, Eduardo Cunha, que o país todo queria ver punido) e existem grandes exceções. Como a do Ministério Público Federal (MPF), do Rio de Janeiro, ao determinar que parte do dinheiro recuperado pela atuação da força tarefa da Lava Jato seja aplicada na reforma das escolas públicas do estado. Uma sacada genial pois dinheiro roubado, e devolvido, tem de ser aplicado num lugar onde são - ou deveriam ser - formados cidadãos mais educados e conscientes. Esperamos que, durante a execução das obras, haja intensa fiscalização para que não se corra o risco de superfaturamento, propina pra lá e pra cá, suborno, etc. Coisa que achamos tão difícil quanto o camelo passar pelo buraco da agulha e o político entrar no Reino dos Céus.

 AMIGOS DO BRASIL

O Brasil continua sendo o paraíso para quem quer praticar malfeitos. Até do outro lado do mundo vêm exemplos de que somos o país do jeitinho, do impossível se tornar possível, da ilicitude receber o carimbaço e ser legalizada. Para se ter ideia da venda das dificuldades para vender facilidades, aliás, um dos slogans brasileiros mais conhecidos no exterior, esta semana foi publicada uma reportagem envolvendo o polêmico líder norte-coreano Kim Jong Un e seu falecido pai, Kim Jong Il que usaram passaportes brasileiros obtidos de maneira fraudulenta para obter vistos para países do Ocidente na década de 1990. Segundo fontes de segurança europeias, os passaportes podem ter sido usados em viagens para cá, Japão e Hong Kong e foram emitidos pela embaixada do Brasil em Praga, na República Tcheca. Uma fonte brasileira, sob condição de anonimato, afirmou que os dois passaportes eram legítimos, apenas os dados contidos neles eram falsos (como assim, cara pálida?). Ainda não se sabe como os dois norte-coreanos conseguiram os documentos. Procurada, a embaixada da Coreia do Norte no Brasil se negou a comentar o assunto. Já o Ministério de Relações Exteriores brasileiro afirmou à Agência Reuters que está investigando o caso. Mas é bom o Brasil, que já tem problemas demais, deixar isto pra lá pois o 'camarada' Kim Jong pode se irritar e apertar o botão vermelho em direção a Brasília e ao Palácio Guanabara e fazer um estrago daqueles. Coisa que ninguém quer...


INSUSPEITO TEMER

Semana sim e a outra também falamos aqui sobre a corrupção brasileira. Os casos brotam, principalmente, do seio das instituições e "dão mais que chuchu na serra", já dizia minha velha avó. Só que, às vezes, somos obrigados a elogiar numa edição uma autoridade e na semana seguinte criticá-la por não ter agido como achamos que deveria. Como fazemos, agora, com a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, por divergir da Polícia Federal e não solicitar a quebra dos sigilos bancário e fiscal do presidente da República Michel Temer, por não ter visto elementos necessários para a medida (Temer, por mais que vá aos programas populares se fazer de vítima, é forte suspeito de ter recebido propina de empresa portuária, a Rodrimar, em troca de um decreto que alterou normas do setor). A PF queria o acesso aos dados bancários e fiscais de Temer para detectar se houve movimentações financeiras suspeitas que pudessem indicar pagamentos ilegais ao presidente, coisa que Dodge não deixou. E como a corda sempre "poca" (expressão usada no norte do estado) pro lado dos mais fracos, ela preferiu não incluir Temer entre os alvos de seu pedido de quebra de sigilo optando por solicitar medidas contra o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (MDB-PR), o coronel João Baptista Lima, acusado de intermediar o negócio, e as empresas Argeplan, pertencente ao militar e amigo do presidente, e a Rodrimar, concessionária de áreas no porto de Santos que tentou influenciar a edição do decreto. Coisa com as quais não concorda a PF e a maioria daqueles que defendem o quem não deve não teme.

 E A SEGURANÇA?

Lennon, nosso porteiro sempre antenado em tudo, reforçou uma das pautas da semana sobre a intervenção federal na segurança do Rio com a seguinte pergunta: o senhor acha que as coisas vão melhorar? Sinceramente, por mais que apoiemos as Forças Armadas e algumas das propostas e pré-ações para diminuir a criminalidade, vindas da cabeça e das boas intenções do generalato, acho que não. Explico: a guerra que está se propondo travar não acontece em campos específicos e entre forças preparadas, dispostas e conscientes para tal. E ainda tem milhões de inocentes parados, sem nada nas mãos para tentar ajudar os mocinhos, podendo ser ferida de morte. Ela é desigual. Ela está mais no campo social e, principalmente, conta com dispositivos 'legais' que resguardam direitos dos humanos que não são direitos. Enfim, por mais que torçamos - e muito - para  o direito de ir e vir e para qualquer pequeno êxito das operações, consideramos tudo um grande engodo eleitoral, uma armação vinda de Brasília para se desviar outros focos, como a Reforma fracassada da Previdência. Uma grande pirotecnia que ainda corre o risco de desmoralizar uma das últimas instituições que, nem de longe, conseguirá ser a salvadora da Pátria num estado que está na UTI. Lamento, mas, por enquanto, só temos torcida, esperança e ratos se mudando de um lugar para o outro com a convicção de que não serão exterminados.
é um "show pirotécnico" do governo federal, o pesquisador analisa que a ação demonstra que o Estado está na "UTI" e que não deve ser o Exército o salvador da pátria.... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/02/16/intervencao-e-show-pirotecnico-sem-beneficios-a-seguranca-do-rio-dizem-especialistas.htm?cmpid=copiaecola

BOM CONSELHO

Não existe motivo mais plausível para o eleitor querer profundas mudanças na Câmara federal do que este: metade dos deputados titulares do Conselho de Ética da Câmara responde a processos na Justiça. Vou repetir: dos 20 deputados federais que estão lá para investigar e propor punições para quem cometeu erros, ou seja, no caso deles, fez o que não podia, dez são investigados por crimes que vão de improbidade administrativa a danos ambientais e recebimento de propina no âmbito das investigações da Lava Jato, por exemplo. O colegiado, ao qual “cabe zelar pela observância dos preceitos éticos”, já começou a se reunir para instaurar processos de investigação que podem levar à cassação dos deputados Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), Paulo Maluf (PP-SP), Celso Jacob (PMDB-RJ) e João Rodrigues (PSD-SC) — os últimos três detentos no presídio da Papuda. Lembrando que as eleições para que possamos varrer este tipo de gente do mapa (têm ainda os senadores, governadores, deputados estaduais e toda a camarilha presidencial que também pode ficar sem a boquinha), acontecem no dia sete de outubro - em primeiro turno - e no dia 28- nos casos do segundo turno. É  bom a gente já ir se acostumando a votar consciente e tirar do cenário o que não presta.

PSICOLOGIA NAS ESCOLAS

Um personagem da Escolinha do Professor Raimundo  - interpretada pelo grande e saudoso Chico Anysio, com o qual fiz minha primeira entrevista gravada numa fita K7 (perguntem aos avós do que se trata) - se não me engano o Camarão, dizia que a ingnoraça é que astravanquia o progressio do Brasi. Me lembrei dele esta semana quando algumas pessoas ligadas à Educação demonstraram não saber muito bem quais são as atribuições de um psicólogo nas escolas, talvez porque dentro da instituição-escola a profissão ainda seja pouco valorizada, até mesmo dispensável, haja vista a inexistência de serviços dessa natureza, enquanto os de orientação educacional, pedagógica e supervisão escolar, por exemplo, são previstos e regulamentados por lei e trabalham muito mais com resultados práticos, palpáveis do ponto de vista de avaliação, tudo isto fazendo com que a Psicologia quase seja vista como uma área secundária. Apenas para reiterar o que diz o Aurélio, "ignorância é o estado de quem não tem conhecimento, cultura, por falta de estudo, experiência ou prática". Nada pejorativo, desde que não existam motivos outros, claro. Mas vamos lá, às tentativas de se responder àquela dúvida e sintetizar as principais prerrogativas - e até direitos e deveres assegurados durante o exercício da profissão - mostrando um pouquinho daquilo que aprendemos nestes mais de 38 anos de caminhada na estrada da ciência que trata dos estados e processos mentais, do comportamento do ser humano e das suas interações com um ambiente físico e social. E nestes quase 10 só atuando na área escolar. Em síntese (prometemos voltar ao assunto em artigo futuro), dentre as várias possibilidades de atuação de psicólogos escolares, eles podem contribuir para:
  • Melhorar o desempenho escolar, a motivação e o engajamento de alunos;
  • Avaliar as necessidades emocionais e comportamentais de estudantes;
  • Promover a resolução de problemas e conflitos;
  • Comunicar de forma eficaz com os pais sobre o progresso do aluno e orientá-los sobre questões educacionais;
  • Prevenir o bullying e outras formas de violência;
  • Avaliar o clima da escola e melhorar a conectividade na escola entre equipe escolar, alunos e família;
  • Reforçar as parcerias Família-Escola;
  • Ajudar as famílias a entender as necessidades de aprendizagem e saúde mental de seus filhos;
  • Prevenir significando 'antecipar-se' a, 'evitar', 'livrar-se de', impedir que algo suceda', que no contexto escolar pode ser se evitar - ou mesmo impedir - a existência de problemas, dificuldades, fracassos, desajustes ou desadaptações do aluno. 
  • Orientar alunos quanto a possíveis aptidões, caminhos a serem atingidos, cidadania, etc.
  • Contribuir, com os demais profissionais envolvidos em atividades educacionais (professores, diretores, orientadores) para fazer com que a escola seja um ambiente mais saudável e feliz. E de aprendizado, claro. 


Em tempo: Quem trabalha com a mente e suas múltiplas formas de manifestação não deve se preocupar com resultados nem a curto, nem a médio prazo. Um psicólogo e um psicanalista não podem ser avaliados, meramente, como treinadores de futebol brasileiro. E ponto.