O impacto que o petróleo tem na nossa vida é absolutamente avassalador. Há décadas que o “óleo da pedra” alimenta as economias dos países mais desenvolvidos e contribui para o progresso e o bem-estar das populações. O preço a pagar por essa prosperidade é, contudo, elevado. A partir dos anos 70 do século passado – com a primeira crise petrolífera –, os governantes do mundo perceberam, quando não são produtores, que tinham o seu calcanhar de Aquiles ou então, enquanto produtores, o poder de influência e decisão que conseguiam. Fala-se muito nas dependências das drogas, mas a dependência mais perigosa – por ter um alcance global –, e à qual não se antevê forma de acabar com ela, é a dependência do petróleo. Dela decorrem três ameaças que põem em causa a paz mundial: a primeira é económica. Os países não produtores estão reféns das decisões dos países produtores, nomeadamente daqueles que constituem a OPEP. A segunda é de natureza geopolítica. Países dependentes dos outros em termos energéticos, como os Estados Unidos, por exemplo, para além de estabelecer ligações perigosas com governantes de países politicamente instáveis ou corruptos, vêem-se obrigados a envolver-se em conflitos, ou em actos de ingerência por forma a salvaguardar os seus interesses económicos. Por último, a ameaça de carácter ambiental. O consumo do petróleo desencadeia emissões de gazes que provocam o efeito de estufa, contribuindo grandemente para o fenómeno do aquecimento global. Bênção ou maldição?
Os maiores jazigos de petróleo concentram-se em países pouco recomendáveis em termos de respeito pelos direitos do Homem. Haverá alguma relação de causa/efeito entre os países produtores de petróleo e os regimes políticos que são menos propícios à democracia e à liberdade? Para os países ocidentais, o “ouro negro” foi uma bênção, porque contribui de forma significativa para a riqueza das economias e respectivas populações. Países como o Canadá, a Noruega ou os Estados Unidos prosperaram com a exploração do seu próprio petróleo sem se terem tornado vítimas da corrupção e sem terem posto em causa a viabilidade política e social das suas instituições; alias, o sistema democrático fortaleceu-se. Uma das razões pode ser o facto de já serem democracias consolidadas aquando da descoberta do petróleo. Porém, muitos dos países que descobriram a sua riqueza petrolífera – Arábia Saudita, Iraque, Irão ou Venezuela – não tinham constituído, naquele momento, um sistema estatal e económico. O enriquecimento súbito só causou mais instabilidade, que só pôde ser enfrentado com regimes autocráticos. É do conhecimento geral que muito do dinheiro obtido pelos lucros da exploração do petróleo só serviu – e serve – para encher as contas “secretas” dos seus governantes, sendo a redistribuição da riqueza incipiente ou nula. A população continua pobre e sofre retaliações de cada vez que se manifesta em nome de mais liberdade e melhores condições de vida. Para estas pessoas, o petróleo é, sim, uma maldição. O facto é que a riqueza petrolífera inviabiliza o desenvolvimento sustentável desses países e impede o progresso de outros sectores da vida económica, pois, segundo o jornalista Matthew Yeomans, no seu livro Oil, “com tanto dinheiro a vir do petróleo ou do gás, há poucos incentivos para desenvolver indústrias competitivas e o sector dos serviços”. Os Emirados ou o Dubai têm apostado no turismo de luxo como factor de desenvolvimento alternativo. No entanto, pelas obras faraónicas empreendidas naqueles territórios, mais se parece com excentricidades de pessoas muito ricas e poderosas que, tal como os faraós, querem deixar a sua marca no tempo e na história. Com o aumento brutal do barril petróleo por causa de conflitos e “guerras económicas”, por ser um bem que não dura para sempre, com a dependência demasiado arriscada relativamente aos países produtores e pelo facto de ser um agente extremamente poluente, é preciso arranjar alternativas e depressa. O uso de energias renováveis é positivo mas insuficiente, pois o ideal é mesmo encontrar uma alternativa total ao petróleo. Muito se fala do hidrogénio. Contudo, o seu custo de produção é ainda muito elevado e a sua adaptação para a construção de veículos comerciais é, por enquanto, economicamente inviável.
Paulo Noval - Praia da Vitória - Terceira -Portugal