MEDO DOS PAIS X MEDO DOS FILHOS
Uma colega de trabalho me falou de sua apreensão ao lidar com o fator MEDO em seu filhinho de três anos. O que é muito comum aos pais, principalmente os de primeira viagem, há uma ansiedade muito grande quanto a sua forma de encarar e lidar com o "problema". Pra início de conversa, a boa e tradicional psicologia nos ensina que o temor é, na maioria das vezes, muito maior nos pais do que na própria criança, isto é, alguns de seus medos passam desapercebidos por ela mas geram grande expectativa nos progenitores. Saber lidar com eles não é das tarefas mais fáceis tanto para os pequenos como para os pais, que também não devem tornar-se reféns dos medos dos filhos. Mas até que ponto os medos das crianças são normais? Esta é a grande questão. É preciso que se saiba distinguir, por exemplo, a ansiedade natural dos pais daquilo que representa real perigo dentro de uma casa ou de outros locais frequentados por eles. Medo de tomadas, de piscinas, de escadas existe e a informação e o diálogo são os maiores aliados. Também é relevante pensar como nascem os medos, se é natural que elas o tenham e o quê fazer? Os medos são característicos nas crianças e nascem como uma forma de recortar as diferentes angústias que surgem no processo de constituição da subjetividade. Os medos, nesse sentido, indicam que a criança está se estruturando psiquicamente. Por isso é "natural" que elas tenham medos diversos. Devemos ficar alertas e preocupar-nos quando uma criança não tem medo de nada, quando ela é destemida. Outra observação que pais podem se utilizar é se o medo é maior que o normal, pois pode tornar-se uma fobia e deixar de ser tratado apenas no âmbito familiar e requerer uma terapia mais específica e contínua. Se os medos vão mudando de uma coisa a outra estamos diante de um processo normal da infância. Em geral os pais se dão conta quando um medo é maior do que o normal porque eles são muito solicitados. Isso é porque os medos fazem com que a criança não consiga ter autonomia. Se ela tem medo de escuro, solicitará que os pais fiquem com ela no quarto ou pedirá para dormir com eles, se tem medo de cachorro não vai querer estar sozinha em situações nas quais possa haver um animal, etc. O medo é um sentimento que nos limita a agir em muitas situações, é como uma espécie de limite "auto-imposto" e é por isso que ele é importante na estruturação do psiquismo, porque os diferentes medos vão construindo diferentes limites para a criança. Quanto menor é a criança mais ela precisa que seus pais lhe marquem os limites, quando os medos aparecem indicam que ela está conseguindo delimitar sozinha algumas bordas, ela está adquirindo a noção de perigo, ela está perdendo onipotência, se sentindo mais frágil, mais humana. E outra preocupação, não só dessa colega de trabalho, é como os pais devem lidar com os medos de seus filhos, se é possível resolver a situação em casa ou a terapia é o melhor caminho? A experiência de muitos profissionais que trabalham esta relação partem do princípio de os pais reconhecerem o medo como um sentimento verdadeiro. Tentar dizer para o filho que é uma bobagem não vai ajudar. É importante também que possam reconhecer o medo como algo do filho, como algo do que ele está falando. Porque ao falar de um medo a criança está tentando colocar "pra fora" algo que a angustia. Nesse sentido, se os pais escutam e conversam com o filho e percebem que isso faz diferença, podem ficar tranquilos. No entanto, se percebem que falar com ele não adiantou é bom que eles possam oferecer ao filho a ajuda de um profissional que "entende" de medos de crianças e que vai poder ajudá-lo. Os pais devem ter muita paciência, a palavrinha mágica na missão de ser pai e mãe. Devem conversar com a criança deixando-a expressar claramente todos os seus medos e sentimentos, ajudando a ficar segura e enfrentar sua fantasia. O que mais as crianças necessitam é da atenção de seus pais, conversar com ela na hora de dormir, ler uma historinha fará com que se sinta protegida e segura, assim os seus medos vão desaparecendo aos poucos.