Nem os monges budistas escapam dela. Treinados para manter a mente imperturbável como a superfície de um lago de águas paradas, eles também manifestam ansiedade de vez em quando. Esse sentimento é uma ferramenta de sobrevivência, acionada em momentos que envolvem alguma tensão. Como atravessar a rua ou fazer um discurso. O esperado é que suma tão logo o pretexto para o seu surgimento tenha fim - ou seja, depois que você atravessou a rua ou fez a palestra. Bem, isso é o que se espera. As pressões da vida cotidiana transformaram a ansiedade em uma doença crônica - algo diferente do que era para ser originalmente - e cada vez mais incidente. "Estima-se que uma em quatro pessoas não consiga se desvencilhar do problema e, com isso, sofra os efeitos físicos e emocionais que ele impõe ao organismo", diz o psiquiatra Tito Paes de Barros Neto, do Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínica de São Paulo. Neste exato momento, cerca de 48 milhões de brasileiros estariam, então, às voltas com os danos da ansiedade. Entender o que se passa com eles é um desafio. Por isso, a ansiedade está no centro das pesquisas dos principais institutos e universidades que investigam as doenças da mente. Os primeiros resultados indicam que ela tem impacto muito maior do que se pensava. A convivência prolongada com a ansiedade afeta várias áreas da vida, como mostra um levantamento da Associação Americana de Desordens Ansiosas. Dos voluntários entrevistados, 87% disseram que ela prejudica muito as relações pessoais. Outros 75% afirmaram que interfere na habilidade de cumprir as atividades diárias. O estudo mostrou que os ansiosos vão cinco vezes mais a médicos. "A ansiedade interfere na percepção que a pessoa tem das mudanças no funcionamento do própio corpo. Elas passam a ser muito valorizadas", explica o psiquiatra Barros Neto. Isso pode levar à mania de doenças, a chamada hipocondria. É fundamental, portanto, que os indivíduos de risco sejam identificados rapidamente. O que se sabia até agora é que o grupo mais vulnerável eram mulheres com idades entre 18 e 40 anos e profissionais que atuam sob maior pressão, como executivos. Novas pesquisas estão refinando essas informações. Estudos indicam que 65% das crianças cujos pais sofrem de ansiedade apresentarão sintomas parecidos. Se o quadro persistir até a adolescência, terão risco 20 vezes maior de manifestar alterações alimentares, como a bulimia e a anorexia, por mais anos do que os colegas da mesma idade. A pesquisa foi feita pela Clínica Psiquiátrica de Adolescentes da Universidade de Turku, na Finlândia.
Revista ISTOÉ