sábado, 1 de janeiro de 2011
NADA DE NOVO NO FRONT
Quem disse que os episódios políticos vividos pela população de Quissamã são inéditos? Talvez difiram apenas em gênero. A disputa entre dois grupos para a escolha da mesa diretora da Câmara desta cidade é recorrente e (re)lembra até mesmo embates do passado travados entre vereadores diferentes que pensavam diferentemente de alguns iguais. Como disse, difere pelo fato de não ter havido tanta publicidade e um empenho tão incisivo como o atual. Mas, a propósito, será que esta mesma população sabe o quê é política? Hoje, ela é muito questionada, pois é sistematicamente confundida com as ações dos políticos profissionais, principalmente, pelos maus políticos. Para ajudar a entendê-la, recomendo àqueles "interessados" - contumazes ou eventuais ( a grande maioria) - conhecer alguns pensamentos da filósofa alemã Hannah Arendt cujo sentido da política é a liberdade. Segundo ela, a ideia de política e de coisa pública surge pela primeira vez na polis grega considerada o berço da democracia. O conceito de política que conhecemos nasceu na cidade grega de Atenas e está intimamente ligado à ideia de liberdade que para o grego era a própria razão de viver. Utilizando o conceito grego de política é que Arendt nos diz: - A política baseia-se no fato da pluralidade dos homens", portanto, ela deve organizar e regular o convívio dos diferentes e não dos iguais. Para os antigos gregos não havia distinção entre política e liberdade e as duas estavam associadas à capacidade do homem de agir, de agir em público que era o local original do político ( e olha que ainda não havia transmissão pela rádio local). O homem moderno não consegue pensar desta maneira pelas desilusões em relação ao político profissional e a atuação desse no poder. Porém, Arendt acreditava na ação do homem e na sua capacidade de "fazer o improvável e o incalculável". E esta capacidade é a mesma em qualquer lugar onde haja disputa pelo poder. Não é fácil discutir - e admitir - a questão da política nos dias de hoje. Estamos carregados de desconfianças em relação aos homens do poder. Porém, o homem é um ser essencialmente político. Todas as nossas ações são políticas e motivadas por decisões ideológicas. Tudo que fazemos na vida tem consequências e somos responsáveis por nossa ações. A omissão, em qualquer aspecto da vida, significa deixar que os outros escolham por nós. Nossa ação política está presente em todos os momentos da vida, seja no aspecto privado ou público. Vivemos com a família, nos relacionamos com as pessoas no bairro, na escola, somos parte integrante da cidade, pertencemos a um estado e país, influímos em tudo o que acontece em nossa volta. Podemos jogar lixo nas ruas ou não, podemos participar da associação do nosso bairro ou fazer parte de uma pastoral ou trabalhar como voluntário em uma causa em que acreditamos. Podemos votar em um político corrupto ou votar num bom político, precisamos conhecer melhor propostas, discursos e ações dos que nos representam. Mas, voltando aos aspectos que envolvem o impasse vivido pelo legislativo quissamaense ( o impasse, reitero, é a batalha judicial travada pelos dois grupos que disputam a mesa diretora da Câmara, onde mandados e liminares não permitem que a população conheça a decisão final no prazo pré-estabelecido), é natural que surjam interesses políticos, defendidos por políticos com a finalidade de desenvolver uma política que, a curto prazo, fará a diferença nas eleições de 2012. Não adianta ninguém defender a tese que os vereadores têm interesses puramente institucionais, uma vez que nos conflitos sempre afloram disputas internas ou pessoais, com o prevalecimento de traumas ou até mesmo a marcação de posições que mais parecem - na linguagem da etologia animal - uma "mijadinha" para delimitar espaços. Quem - como eu - conseguiu analisar alguns discursos acalorados feitos em sessões ordinárias ou extraordinárias, através da rádio comunitária Quissamã ou in loco via internet, pôde "sentir " ( catarse, feelling, feedback, como queiram...) que os mesmos fazem parte de um grande estratagema visando as próximas eleições municipais. Ou não?