Às vezes, quando me vejo entediado em frente a alguns programas de tevê, procuro fazer uma volta ao passado. Relembro de cenas e personagens das décadas de 60 e parte de 70 – no meu caso – quando nosso universo nos fazia viver intensa e despretenciosamente a leveza da própria inocência. Sempre que podíamos, eu e várias crianças vizinhas nos reuníamos – geralmente em nossa casa, na Pereira Carneiro, - para jogar banco imobiliário, bater figurinhas, conversar (uma prévia para o pêra, uva e maçã), lanchar Plus Vita com Coca-Cola ou guaraná Caçula, ouvir (na radiovitrola Philips) os disquinhos coloridos de vinil, ler gibis ou, ainda, para fazer outra coisa que gostávamos demais: assistir aos programas de tevê, estes, sim, um dos mais fortes e saudáveis elos que eu e uma imensa legião temos com o passado.
Lembro-me bem quando ficávamos próximos ao aparelho, um ABC, A Voz de Ouro, instalado em um lindo móvel de madeira, responsável pelas viagens que eu e minha turma fazíamos. A televisão era enorme, não sei de quantas polegadas, repleta de fios e válvulas gigantes que tinha que esquentar e quando esquentava muito queimava. Quando isto acontecia, meu pai chamava um técnico, que geralmente ficava lá em casa o sábado todo para fazer a fábrica de sonhos voltar a funcionar. Mas isto sempre valeu a pena, pois nos propiciava assistir, por exemplo, aos episódios do primeiro Superman (com George Reeves), National Kid (cantávamos nationaro kido, kiiido, sem ao menos saber o significado), Perdidos no Espaço (da linda Judy, da Penny e do espertinho Will), Viagem ao Fundo do Mar (onde entendíamos Civil que mais tarde seria SeaView), Os Monstros, às estonteantes e louríssimas Feiticeira e Jeannie e aos desenhos animados de Jambo e Ruivão, Gato Félix, Johnny Quest, Space Ghost, Herculóides, Mr. Magoo, Super-Heróis Marvel e tantos outros que nos faziam esquecer que aquilo era obra de ficção e fora criado para vender produtos. A maioria da programação era em preto e branco, mas quem ligava. À noite, durante o chamado horário nobre, havia um aumento no consumo de energia no país e quando isto não provocava blackout ou o aparecimento de listas horizontais e verticais na tela burlávamos a censura (o programa a seguir é proibido para menores de...) para ver O Homem do Sapato Branco (com o saudoso Jacinto Figueira Junior), Além da Imaginação e aos filmes de terror que sob o comando de Christopher Lee nos fazia produzir horrendas imagens nas paredes. Outro detalhe muito marcante foi em relação à dublagem, quando aprendíamos a distinguir vozes, reconhecendo a beleza delas e percebendo que ao ouvirmos o marcante versão brasileira A. I. C. São Paulo – não que os outros não fossem bons - era a dica para mais um grande espetáculo. Relembro de tudo isto com muito carinho sem esquecer de que nossa geração, o mundo e a maneira como o encarávamos eram diferentes. Entre outras vantagens, as gerações atuais têm em mãos conhecimento e tecnologia tão avançados que lhes permitem corrigir o que não vai bem e conservar ou reviver o que já foi bom. Basta saber tirar proveito.