segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

VERSOS ÍNTIMOS


Duas coisas me fizeram lembrar do poeta Augusto dos Anjos nas últimas semanas. A primeira foi quando voltei à Vila Pereira Carneiro e avistei nossa antiga casa, situada bem ao lado da residência de seu filho, Guilherme dos Anjos, pessoa muito controvertida mas de grande conhecimento e que hoje pertence aos netos e bisnetos de um dos mais reeditados autores brasileiros. A segunda foi a modernidade de suas obras, entre elas Versos Íntimos, que tão bem reproduzem a natureza humana e merecem, sempre, profunda reflexão:

Versos Íntimos - Augusto dos Anjos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo.
Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa ainda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

***