sábado, 14 de março de 2009
SEMPRE ATUAL
Na coluna dominical do La Nacion, o jornalista/analista Mariano Grondona publicou um artigo (Um Príncipe no Meio da República) fazendo analogias de textos de Maquiavel e Nietzsche ao estilo autoritário e autossuficiente do ex-presidente da Argentina. Vale para lá e vale para cá. Contundente.
Abaixo, alguns trechos do artigo de Grondona:
* Sua (Maquiavel) obra principal versa sobre as Repúblicas, nas quais a ambição ilimitada termina contida nas instituições. Todos os políticos têm algo de maquiavélico, mas onde há instituições fortes, elas se encarregam de canalizar a paixão pelo poder em direção ao bem comum dos cidadãos. Maquiavel distinguia entre os "príncipes hereditários" e os "príncipes novos". Aqueles estavam moderados pela tradição. Mas estes, não tendo precedentes nem regras que os sujeitassem, a incompatibilidade com os princípios republicanos era absoluta.
* Todo príncipe novo vive rodeado de uma corte de subordinados incondicionais. Seu poder é tão ilimitado como sua ambição. Mas deve existir certa coerência entre o sistema e seu protagonista. O anômalo, entre nós, é que o príncipe novo que nos governa o faz em meio a uma República. Os que o seguem, o aplaudem cegamente. E os que não o seguem, ainda não lograram que se contenha nas limitações republicanas. O sistema que estamos vivendo é anômalo: mas a República, ainda que ferida, não está morta.
* Os políticos que ainda sonham com o poder ilimitado de um "príncipe novo", ainda sem sabê-lo, pretendem seguir a Nietzsche. Sua empresa provará ser finalmente utópica. Mas até que esta demonstração se concretize, devemos reconhecer que a energia que destilam é surpreendente. É abundante o testemunho de psicólogos e psiquiatras que destacam o caráter patológico desta desmedida pretensão. Nada parece conte-los até esse último momento em que terminam por asfixiar, inclusive aqueles que os seguiam cegamente. Não basta então, dizer que os psicopatas de poder estão condenados. Se a República não logra contê-los, sua resistência à inevitável deterioração será colossal.
Quando o assunto diz respeito à política, principalmente à praticada por aqueles que procuram manter-se em evidência e no poder - sem qualquer tipo de escrúpulo - à custa do sofrimento e da dependência da população, tanto Nietzche quanto Maquiavel continuam atuais e emplacando suas idéias. Reproduzir pensamentos dos dois tem sido para mim, há muito tempo, um exercício de observação e pragmatismo quase que diários.